Ambiguidade da Solidão (02/04/24)


 A ambiguidade da solidão é fria, mas acolhedora. Ela te move pelo sangue derramado em seu caminho e te concede o maior poder já visto. Presa em uma nuvem escura de incertezas e sofrimento, buscando incansavelmente por uma luz. Isso te faz pensar no que é importante na sua vida. Te faz pensar em tudo o que você passou, em tudo que mais deseja. No fim, um quadro. Repleto de seus sentimentos mais intensos, jogados com raiva e sem remorso. Aos olhos do próximo, um tesouro, um grande diamante, precioso, esculpido com suas lágrimas e sangue. E depois? O que sobra é a tentação e o medo. O desejo insano de querer mais, de sangrar pelos braços novamente e se sentir completa. O medo e a incerteza de quando isso vai acontecer novamente, de fugir do inevitável. Você se sente suja todas as vezes, lembrando de todos os quadros que você pintou. Novamente o desejo e o medo. Um ciclo insuportável de dor, pulsando em sua cabeça cada segundo mais. Sangue sangue e mais sangue. Escorrendo de todas as feridas, suja em suas unhas e em toda a sua carne. As lágrimas escorrem novamente, quentes e sem fim.

Já é tarde. Outra arte foi feita e tudo o que você mais desejou e temeu está na sua frente. Palmas surgem dia após outro, mas nunca te satisfazem. Eventualmente, você consegue sair desse ciclo. E o que sobrou agora? A solidão é fria e acolhedora, mas sempre irá de deixar. Seu talento esculpido em sangue e lágrimas, o tesouro daqueles que o exaltam desaparecem do dia pra noite. A apatia de uma artista com quadros intensos mas sem talento. O que te movia não existe mais. Logo, a frustração toma conta de sua mente. Não é mais a mesma coisa. As lágrimas não escorrem como antes. Elas terminam rapidamente. O sangue não escorre mais, mas as cicatrizes apagam todo o seu sofrimento a cada dia. Seria o seu fim estar fadada a sofrer eternamente pra buscar aquilo que te faz bem? A tentação pode ser grande mas é insaciável. Não é mais como antes. O grande abismo não olha mais para meus olhos e me chama calmamente, cortando todo o meu corpo, extraindo a tinta de todas as gotas que escorrem lentamente. A apatia de uma artista em um quadro em branco.

No fim, você entende que foi melhor assim. Seu sangue não quer mais escorrer e seus olhos não querem mais chorar. Seu pincel não quer mais cortar sua carne e seus sentimentos estão presos em seu coração. É o recomeço, a esperança de poder tirar a tinta de outras maneiras, sem machucar seu corpo e sua alma. Recomece. A apatia termina com suas lágrimas caindo novamente. Seu coração se sente melancólico e tudo o que você sente pode sair novamente. Sem sangue e sem sofrimento. A liberdade de seus dedos percorrem todos os caminhos. A frustração corre sobre suas veias, mas não te impede de continuar. A esperança é o que vem após o desejo. Talvez eu não esteja fadada ao sofrimento, mas nunca irei me livrar de tudo aquilo que aconteceu comigo. Algumas cicatrizes são eternas. A esperança de uma artista em tela

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