Sobre vosso luar carmesim, tomado pelo turvo sereno, encontro-me destinada a iniciar teu julgamento sobre as almas deste casco desprezível. Tua voz ecoa sobre a noite fria desta madrugada, escorrendo sobre a prata, o sangue se encontra com as cartas. Nossas mãos se encontram em um pacto de sangue, entrelaçadas junto a teu grande ritual. Meus olhos se fecham finalmente, me encontrando com o grande mistério que nos trouxe até aqui: Uma grande esfera, emanando cores incompreensíveis a olho nu, soltando feixes de luz sobre a realidade, queimando tudo aquilo que vê e congelando tudo aquilo que está longe de tua visão. Tua inigualável silhueta então aparece sobre as luzes, como um grande espetáculo, teus olhos profundos se encontram aos meus, cheios de mistério, como o grande enigma da minha desprezível vida, até que tudo para. O silêncio toma conta de toda minha mente, esvaziando-se das cores fora do espectro, tomando-se em um grande breu que rapidamente explode por completo, queimando tudo à nossa volta. Enquanto o caos tomava conta de toda minha volta, logo ouço sua voz, agora estridente, ecoando como uma lança em minha mente. O fogo então começa a desaparecer com o vento frio daquela noite, dissipando seu calor. Sinto então suas lágrimas em meu peito, congelando tudo por onde passam, como um grito de agonia sobre as águas. Suas mãos tremiam em minha presença, como se eu fosse o fim de tudo aquilo que um dia parecia uma grande dádiva. Quando percebo nossa volta, vejo aqueles olhos que um dia juraram a nós tuas almas, brilhando contra tua luz em silhuetas sombrias e murmurando a ti todos os teus pecados. Suas vozes apesar de baixas, soavam como gritos em nossos ouvidos, julgando eternamente todas as nossas almas. Logo, suas formas desapareciam entre a neblina, deixando para trás apenas as luzes de seus olhos se dissipando completamente em nossa frente. Suas vozes continuavam a ecoar junto a sua, cada vez mais alto, até que minha mente começasse a se perder por completo. Minha respiração pesava a cada trago do ar frio daquela noite, queimando tudo por dentro e escorrendo pelos meus olhos. Em um pequeno momento de lucidez, percebo aquelas luzes novamente, perfurando minha mente como um presságio e iluminando um pequeno caminho ao fim de tudo. No fim, quando minha mente já se perdia completamente, abro meus olhos novamente. O vento batia sobre meu rosto inquieto e desnorteado por tudo o que contemplei até então. Perdida de pensamentos, pude finalmente olhar em seu rosto. Sua imagem sobre o céu avermelhado era como um sonho. Sua mão se estendia até a mim como um pedido, dizendo que dali em diante, tudo seria completamente diferente. Essa era a terceira carta.

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