Um, dois, três…
Escorre. Cada vez mais, escorre. Sinto meus olhos pesados a cada segundo. Sinto meus pulmões cansados a cada minuto. Até onde isso vai? Procuro… Quatro, cinco, sete… Eu ainda estou aqui? Cada suspiro é como se eu perdesse tempo. Mas estou com pressa?
Oito, nove... Eu continuo procurando… DEZ,
Eu sei que tudo o que passamos não foi atoa. Viver cada segundo por alguém. Viver a cada minuto por ninguém. Se tivéssemos esperança tanto quanto as ilusões dos dilemas em nossos caminhos talvez estivéssemos em paz... Nove, oito, sete, seis, cinco… Quatro.
TRÊS:
Em uma grande neblina de medo eu sempre me encontro sozinha, encarando meu reflexo sobre a água, num grande lago raso. Eu vejo por trás dos olhos dessa mulher um desejo insaciável de ser. Ela então olha para todos os lados como se estivesse procurando por algo. Seus olhos não escondem o peso de seu cansaço. Seu coração mal consegue disfarçar a angústia por algo que nem mesmo pode acontecer. Sua mente turva dificulta o entendimento de sua alma. Seu suspiro é de dor. Eu sinto… Bem, deixe-me levantar.
DOIS:
Sempre que me deparo com essa parede enevoada que nos cega nossa volta às vezes cogito estar perdido. Perdida. Perdido em um labirinto sem fim onde sempre há luzes mas não caminhos. Onde apenas o coração pode nos guiar. Uma viagem difícil e delicada, mesmo que ainda procure incansavelmente pela saída, tentando encontrar respostas de um livro inescrito e indecifrável. Como num enigma, muitas vezes me encontro de joelhos sobre o raso e gigantesco lago que me cerca. Talvez eu esteja perdido. Perdida.
UM:
Sem forças para continuar. Talvez eu deva parar novamente e olhar novamente para esse reflexo. Ela é como eu, porém cansada. Eu... Sou assim...? Meus olhos não aguentam mais olhar para você. Se fecham derramando tudo aquilo que me resta além de palavras ainda não escritas. Meus olhos se abrem e você continua lá, olhando para mim com seus olhos escuros e calorosos, como se em mim, tivesse encontrado algo que lhe pertence. Nossos olhares são como um só, observando cada detalhe de meu rosto como se fosse seu. Eu sinto como se fizesse parte de mim. Seu olhar ambicioso me lembra das noites em que passei em claro lamentando a perda de algo que nunca me pertenceu. Seu olhar carinhoso me lembra das lágrimas que de mim um dia foram derramadas, pedindo pelo doce em meus lábios novamente. Sua boca me lembra dos dias em que soava de minha voz belos poemas inrecitados e perdidos pelo tempo. Seu nariz me lembra das rosas que um dia foram despedaçadas para que o duelo entre seus sentimentos ocorresse bem. Talvez eu seja essa mulher que procura pelo seu corpo incansavelmente e se sente perdida sobre um grande nevoeiro de ansiedade. Talvez eu tenha encontrado o caminho, mas as respostas continuam sem perguntas e o livro inescrito. Talvez eu deva começar a escrevê-lo.
três, dois, um.
Eu não estou perdido.
Não.
Eu não estou mais perdida.Texto atualizado, originalmente de 20 a 23 de feveiro de 2022.

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