PRISMA - I



 Há momentos em que mesmo rodeada de tinta, tudo que conseguimos ver é preto e cinza. Não há mais cor saindo prisma e todas as latas já se secaram. Nesse momento, a única coisa que sentimos medo é vê-las novamente. Quanto mais esse sentimento sobe até meu pescoço, sinto a frieza do meu suor, descendo de todas as partes, congelando tudo por onde passam, deixando um rastro de desprezo, pintando meu corpo de preto acinzentado. Aos poucos, sinto seus dedos frios passando pelos meus lábios, brincando com minhas bochechas e entrando em minha garganta. Minha respiração para e o suor passa a pintar ainda mais o meu corpo. Eu não tenho mais forma. Tudo em minha volta é cinza e melancólico, uma sombra indecifrável. Um suspiro vale cada segundo, observando o completo vazio enquanto me esvazio completamente. Não há piedade para aqueles que deixaram o vazio te corroer. Ele busca cada vez mais, todas as fissuras dentro de sua existência, apagando todos os seus afetos e te transformando em mais um corpo para que seus desejos possam finalmente ser realizados. Há um motivo pelo qual estou aqui. Foi eu quem buscou esse fim, patético e impiedoso.

 Quando não há mais oxigênio no seu cérebro, tudo se torna uma grande visão turva. As cores buscam você até seu último segundo. Correndo pelas suas veias como um raio corre pelo céu. Queimando tudo por onde passa e destruindo tudo por onde para. Colorindo meus braços sobre o grande vazio que me cerca. Eu não sou mais quem eu deveria ser? Não há motivos pra continuar em um céu escuro, rodeada de tintas secas que nunca poderiam saciar a minha vontade de extrair completamente todos esses sentimentos inquietos dentro de minha mente. Em um segundo, todas as cores se encontram sobre meus olhos e tudo o que posso ver é uma grande luz branca sobre minha existência. Cada vez mais forte até que nenhum traço dessa tinta escura exista mais sobre nossos olhos.

 É nesse momento em que nossas almas despertam para o que é real e o que não é. Vagando sobre o paradoxo que me julgou, buscando respostas e entendendo que a partir dali, há uma nova chance de tentar outra vez. Uma alma despertada nunca será inquieta. Gritará sobre a grande explosão com todas as vozes que antes ecoavam sobre nossas mentes. Se encontram sob uma nova tutela, agora livres para ecoarem além de nossa existência, para nossa existência. O ruído ecoa sobre a sala antes cinza e turva, encontrando a ressonância perfeita, como num espetáculo de luzes. As cores então se espalham sobre o vazio, colorindo cada pensamento e cada fissura antes esvaziada, preenchendo todo o espaço com cores vibrantes, procurando por cada saída para enfim libertar toda a explosão. A partir daqui, não há mais volta. Sua respiração leve e profunda te faz sentir o poder de ter o que sempre quis. Você não acredita, mas tudo parece ser tão perfeito. A luz então se dissipa aos poucos, revelando o que antes foi consumido pelo vazio. Há caminhos, cores e almas vagando pela tua existência. A única pergunta que consigo fazer nesse instante é "o que acontece depois da explosão?". Acho que só há uma maneira de descobrir. O prisma brilha sobre o sol, iluminando seu redor com cores.

 Cores.


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